História do Algoz
Algoz e suas origens . . .
O topónimo Algoz parece porvir da palavra árabe “Al-Gûzz”, que é o nome de uma tribo guerreira asiática, procedente do Médio Oriente, da qual aqui se teria fixado um grupo no século XII.
Existem ainda outras curiosas versões, sobre a origem do nome da freguesia. Uma delas, contada por Pinho Leal, diz que vindo um rei de Castela com o seu exército a correr terras de mouros algarvias, os fidalgos que o acompanhavam lhe disseram que atacasse a vila, pois aquilo nada era! Ao que o rei respondeu:
- Algo és! Esta é a história mais típica do século XVII ou XVIII, mas que carece de fundamente histórico.
Outra explicação, também curiosa, é a que afirma que quando a povoação estava nos seus alvores de fundação e ainda sem nome, resolveram os moradores reunir-se e dar o nome à sua povoação.
Uma vez reunidos resolveram fazer uma procissão, levando nela a imagem em tamanho natural de um santo, mas o lugar que havia de ser ocupado pelas ruas estava ainda coberto de arvoredo e, em determinado ponto do percurso o andor não pôde passar porque a passagem era impedida pela pernada de uma árvore.
Pediram então ao dono que a cortasse para que o andor pudesse passar, mas o dono opôs-se. De imediato se levantou a discussão e o pároco para evitar maiores desavenças, decidiu então, cortar a cabeça ao santo, para que o andor pudesse passar. Assim foi feito. Como a maior parte das pessoas da freguesia não tinham boa relação com o padre, decidiram, para registar a malvadez deste, dar à localidade o nome de Algoz.
Durante o período muçulmano, a povoação era notável e após a reconquista portuguesa a localidade foi repovoada, fato que é provado pela toponímica, pois toda ela é de origem já portuguesa. Inclusivamente, há autores que defendem que o nome da povoação deveria escrever-se “Algôs” e que o termo é proveniente de Alagoas ou Lagoas, em virtude de uma caraterística geográfica local.
Sobre o período de domínio árabe, diz Ataíde de Oliveira, na sua Monografia do Algôs, datada de 1905, o seguinte: «Durante o domínio árabe na nossa província, pouco podemos relatar com referência a Algôs. Não encontramos no documento escrito que esta povoação se refira, o que nos faz crer que outro nome tivesse. É de supor que os habitantes de Algôs experimentassem, nos primeiros anos do domínio árabe, os mesmos tormentos e agruras dos mais povos das províncias a norte, motivadas pelas diferenças de religião. Certamente a povoação do Algôs era cristã no momento em que foi forçada a entrar no domínio mourisco. Apelando-se para as Memórias Eclesiásticas do Reino do Algarve, estas nos informam que logo no primeiro século da Igreja aqui se plantou a semente do Cristianismo. Desde o nascimento do Cristianismo, lançaram seus dignos apóstolos na Bética e na Lusitânia copiosas sementes da doutrina, capazes de produzir prontos e imediatos frutos nos corações dos habitantes destas regiões. Não é temerária a conjetura de serem os Espanhóis instruídos nos mistérios da religião cristã de São Paulo, pois foi expressa a determinação deste apóstolo das gentes de querer partir e santificar com a sua presença esta parte da Europa.» (…).
Portanto, Algôs, a exemplo de todas as desta província, entrou com as suas crenças para o domínio de uma nação que professava doutrina diferente.
Perto de seis séculos dominaram os Mouros no Algarve e certamente no tempo em que foram expulsos, todos os filhos do Algôs professariam o maometismo, se a luz que irradiava da sepultura de um santo no alto de um promontório os não animasse a manter-se na fé do catolicismo. Ainda assim quantos habitantes do Algôs crentes, por medo, das muralhas de Silves, não causariam a morte de muitos soldados de D. Sancho I ou de D. Afonso III? Quantos não se iriam prostar na mesquita do Algôs, com a face voltada para Meca, a pedir a Maomé o vencimento das armas agarenas contra os perros Cristãos?. Cremos, pois, que ainda dentro do Algôs se deveriam repetir as questões resultantes do dualismo de crenças dos seus habitantes e muito principalmente quando fosse aberta qualquer luta entre Mouros e Cristãos.
Seja como for, a povoação de Algoz era muitíssimo populosa em tempos antigos, com numerosos edifícios, de que ainda restam abundantes vestígios e tinha também espessas muralhas. Sabe-se que ocupava uma extensão maior, com um perímetro de cerca de cem metros mais, além do atual, chegava até à capela da Nossa Senhora do Pilar, que se situa na cumeada de um serro. Não se sabe quando se deu o arrasamento das suas muralhas, nem quando perdeu o seu título de vila.
O Algoz passou para o reino de Portugal após a conquista de Silves, no reinado de D. Afonso III. Ao que parece era ainda povoação importante no tempo de D. Fernando. Foi nessa época que uns fidalgos espanhóis, os Tenreiros, que haviam chegado a Portugal com o rei D. Fernando, após as guerras com Castela, construíram aqui o seu solar. É a casa desta nobre família que se devem referir topónimos existentes na localidade, como Paço da Torre. Um dos membros desta família foi Gonçalo Tenreiro, que em Algoz foi feito senhor das frotas, ou seja, almirante e senhor da vila. Outras notáveis famílias da localidade são as dos Mascarenhas Neto e a dos Marreiros Neto.
Notável é a Ermida de Nossa Senhora do Pilar, em cuja sacristia se encontra um poço com água de efeitos milagrosos, quando aplicada nos olhos. A lenda que explica este fenómeno, diz que uma mulher do povo que se encontrava à beira da cegueira, encontrou um dia a Virgem do Pilar, que a aconselhou a ir lavar os olhos na fonte da Senhora do Pilar, mas a mulher retorquiu, dizendo que no cimo do outeiro indicado não havia nenhuma fonte. A Senhora indicou-lhe então a ermida e mandou escavar na parede com as próprias mãos, o que a doente cumpriu na manhã seguinte. Pouco depois, humedeceram-se-lhes as mãos e a água brotou, a mulher lavou logo os olhos e a cura deu-se de imediato.
Em Algoz, foi criado, em 24 de abril de 1702, por Tomé Rodrigues Pincho, um Monte da Piedade, destinado a socorrer os lavradores pobres em maus anos agrícolas. A instituição foi aprovada por D. Pedro II, em 30 de julho de 1704 e foi, possivelmente, a primeira do género a existir no Algarve, pois a de São Bartolomeu de Messines, além de ser mais limitada, foi aprovada apenas em 1783. O Monte da Piedade de Algoz foi fundado com um capital de trinta e três moios de trigo, para emprestar aos lavradores com um prémio de três alqueires por moio, devendo ser administrado por três irmãos da Confraria do Santíssimo Sacramento, que eram eleitos anualmente, de modo secreto.
Em 1852 houve uma nova escritura da instituição, em que apenas se reformulou a forma de administração dos celeiros comuns.
Em 1864, nova lei deu às Juntas da Paróquia, a administração destes celeiros. Do Monte da Piedade faz parte o celeiro situado na praça de Algoz, sobre a porta existe uma inscrição com o nome do fundador e a data da fundação, talhada em pedra. Sabe-se também que esta casa de celeiro foi doada pelo benemérito fundador.
Em termos eclesiásticos pode ser aceite que a Paróquia de Algoz tem uma fundação muito antiga, talvez do século XIII ou XIV.
Natural de Algoz era Francisco Xavier d’Ataíde Oliveira, doutor em Teologia e Direito, jornalista e escritor, que aqui nasceu em 1842 e morreu em Loulé em 1915. Em Loulé fundou o jornal “O Algarvio”, escreveu e publicou muitas obras, de que se destacam as numerosas monografias de terras algarvias, incluindo a Monografia de Algoz, sua terra natal.